Nesta semana, a Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas (ABCVAC) expressou preocupação com a decisão do laboratório japonês Takeda de priorizar o abastecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) com a vacina contra a dengue, conhecida como Qdenga. A associação manifestou sua apreensão em relação à possível falta do imunizante em suas clínicas privadas, especialmente para faixas etárias não cobertas pelo setor público.
No SUS, a vacina é disponibilizada para a população entre 10 e 14 anos de idade, um grupo que concentra um grande número de hospitalizações por dengue, atrás apenas dos idosos. Por outro lado, pessoas que procuram clínicas privadas, laboratórios e drogarias têm enfrentado dificuldades para conseguir o imunizante, que é aplicado em duas doses com um intervalo de 90 dias.
A Takeda esclareceu que, diante do atual cenário da inclusão da vacina no SUS por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), a empresa está concentrada em atender de forma prioritária ao Ministério da Saúde. Com isso, a multinacional não fará novos contratos com estados e municípios, priorizando o fornecimento da vacina no mercado privado brasileiro apenas para completar os esquemas vacinais das pessoas que tomaram a primeira dose na rede privada.
Para o ano de 2024, a Takeda tem garantida a entrega de 6,6 milhões de doses da vacina, com o provisionamento de mais 9 milhões de doses para 2025. A empresa também busca soluções para aumentar o número de doses disponíveis no país, incluindo parcerias com laboratórios públicos. A procura pela Qdenga tem escalado, principalmente desde outubro de 2023, quando foram aplicadas 1.463 doses, mais que o dobro do mês anterior. Em janeiro de 2024, foram administradas 4.923 doses, totalizando 13.290 doses entre julho de 2023 e janeiro de 2024 em cerca de 280 clínicas particulares do país.
A ABCVAC compreende e apoia as ações do PNI, mas ressalta o papel fundamental do setor privado complementando o setor público. “Expressamos nossa preocupação diante da possível falta da vacina nas clínicas particulares e especialmente em relação às faixas etárias não cobertas pelo setor público”, afirmou Fabiana Funk, presidente do conselho da associação. A Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) não se posicionou sobre a decisão do laboratório japonês, alegando que se trata de uma prerrogativa comercial da fabricante.
Apesar dos desafios relacionados ao abastecimento da vacina, é importante reforçar que o Ministério da Saúde determinou que a Qdenga será aplicada em 521 municípios com maiores incidências de dengue. Além disso, o Instituto Butantan está trabalhando na produção de uma nova vacina contra a dengue que está em fase final de ensaios clínicos. As soluções para garantir um abastecimento adequado da vacina contra a dengue, tanto para o setor público quanto para o privado, continuam sendo discutidas e buscadas ativamente.