A pesquisa considerou dados de mais de 20 milhões de mulheres adultas registradas no Cadastro Único do governo federal e apontou que, quanto maior a desigualdade de renda nos municípios, conhecida como segregação na pesquisa, maior é o risco de morrer por câncer de mama. O estudo indica que mulheres que não recebem o benefício do Bolsa Família tiveram um risco de mortalidade por câncer de mama 17% maior em comparação com as beneficiárias do programa.
A análise foi fruto de uma colaboração entre pesquisadores da Fiocruz Bahia, da Faculdade de Epidemiologia e Saúde da População da London School of Hygiene and Tropical Medicine, do Ubuntu Center on Racism, Global Movements and Population Health Equity da Universidade Drexel, do Centro de Diabetes e Endocrinologia da Bahia da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia e do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia.
Os dados utilizados no estudo são do Cadastro Único do governo federal, que inclui mais de 114 milhões de brasileiros com baixa renda, o que corresponde a quase 55% da população do país. Do universo de mulheres pesquisadas, 53,3% eram pardas, 32,8% eram brancas, 8,2% eram pretas, 0,5% eram indígenas e 0,4% eram asiáticas.
Um ponto importante do estudo é que a incidência de mortalidade por câncer de mama em municípios com baixa segregação foi de 6,4 mulheres a cada 100 mil habitantes. Em municípios com média segregação, a incidência chega a 6,7, enquanto nos municípios com alta segregação de renda, essa taxa é ainda maior, de 8,2 óbitos a cada 100 mil. As mulheres que recebem o Bolsa Família e vivem em cidades mais desiguais têm um risco de mortalidade por câncer de mama 13% maior que a média, enquanto as que não recebem o benefício e moram nessas cidades têm um risco 24% maior.
A pesquisadora Joanna Guimarães, associada ao Cidacs/Fiocruz Bahia, ressalta a relevância do estudo ao destacar que a maioria das pesquisas sobre o impacto do Bolsa Família na saúde se concentra na saúde infantil e doenças infecciosas, explorando menos a saúde da mulher. “A pesquisa mostrou o resultado de uma política pública, o Bolsa Família, na redução das desigualdades na mortalidade por câncer de mama em mulheres. Isso se deve possivelmente ao aumento da renda familiar e com isso maior acesso a medicamentos, alimentação de qualidade e acesso a serviços de transporte, permitindo a busca por serviços preventivos de câncer, como a realização de mamografia, em outros locais”, afirmou a pesquisadora à Agência Fiocruz de Notícias.
Ela defende que o estudo tem implicações políticas, pois sugere a inclusão do rastreamento e exame clínico das mamas entre as condicionalidades do Bolsa Família. A conclusão se dá a partir da constatação de que tais condicionalidades impõem uma maior utilização dos serviços de saúde, aumentando a detecção precoce e potencialmente reduzindo a mortalidade.