De acordo com o 1º Dossiê anual do Observatório de Violências LGBTI+ em Favelas, mais de 1.700 pessoas participaram da pesquisa, que reuniu dados e relatos de agressões e exclusão vividas por lésbicas, gays, bissexuais, pessoas trans, queer, intersexo, assexuais e outras nesses territórios.
A pesquisa abordou questões relacionadas à segurança pública, educação, saúde, moradia, emprego e renda. Um ponto alarmante foi a revelação de que a população travestigênere, que inclui pessoas trans, travestis e não-binárias, é a que mais sofre com a falta de acesso. Por exemplo, 25,5% das travestigêneres pesquisadas abandonaram a escola antes de concluir os estudos, em comparação com 8% das pessoas não trans.
Em termos de emprego, cerca de 9,4% dos entrevistados estão vivendo com renda mensal abaixo de R$ 500, e 60% destes são pessoas travestigêneres. Além disso, 80% das mulheres lésbicas relataram ter sofrido assédio sexual no trabalho. Na área da saúde, 28% dos homens trans não conseguem acessar os medicamentos necessários nos postos de saúde devido à falta destes remédios.
Quanto à segurança pública, a pesquisa revelou que a maioria dos entrevistados (69,56%) afirmou ter ficado impedida de acessar sua moradia devido a operações policiais, com 66,59% dessas pessoas sendo negras. Além disso, 48,28% dos participantes do levantamento já sofreram algum tipo de violência durante uma abordagem policial.
Uma das pesquisadoras do dossiê, Agatha Christie dos Anjos de Oliveira, comentou: “O cenário que a gente encontrou é um cenário muito cruel. A gente realmente não esperava, foi algo que impactou bastante, porque a gente viu que estamos muito distantes de algumas coisas que são básicas, para falar no sentido mais claro”.
Os dados foram coletados por meio de entrevistas e formulários, com a participação de moradores de diversas favelas do Rio de Janeiro, como Maré, Cidade de Deus, Madureira, Rocinha, Alemão, Vila Sapê, Vila Cruzeiro, Serrinha, Palmares e Gardêna Azul.
O dossiê também traz recomendações direcionadas aos âmbitos municipal, estadual, federal e internacional. Entre as recomendações, destacam-se a necessidade de coleta de dados sobre a população LGBTQIA+ nas favelas, além da capacitação de agentes públicos para lidar com as especificidades desse grupo e o fortalecimento de órgãos de denúncia e monitoramento de situações de violência.