Os dados analisados abrangeram um período de quatro anos, desde janeiro de 2018 até dezembro de 2019, para verificar o consumo anterior ao surgimento dos casos de covid-19 no país, e de janeiro de 2020 a dezembro de 2021, para apurar o uso durante a pandemia.
A farmacêutica Sarah Nascimento Silva, que integra o Núcleo de Avaliação de Tecnologias em Saúde da Fiocruz e coordenou o estudo, destacou que o crescimento no consumo de antidepressivos e ansiolíticos pode estar associado ao contexto de incertezas e preocupações gerado pela pandemia. No entanto, outras questões também foram apontadas como possíveis influenciadoras desse aumento, como a alteração da legislação que regula a dispensação de medicamentos psicotrópicos durante a pandemia, ampliando temporariamente as quantidades máximas permitidas nas notificações e receitas de controle especial, e a entrega remota, antes proibida.
Além disso, houve a ampliação da oferta de medicamentos à população, com a transferência de recursos financeiros aos municípios por parte do Ministério da Saúde para aquisição de medicamentos do Componente Básico da Assistência Farmacêutica, devido aos impactos sociais causados pela pandemia.
A pesquisadora ressaltou que, embora essas alterações tenham ampliado e facilitado o acesso aos medicamentos, a Rede de Atenção Psicossocial já vinha sofrendo mudanças que impactaram negativamente na assistência prestada aos usuários nos anos anteriores à pandemia. Durante a pandemia, com o isolamento social, a rotina de serviços dos centros de Atenção Psicossocial (CAPs) foi bastante afetada, impactando na assistência adequada.
A coordenadora do estudo destacou também que o aumento no fornecimento do levetiracetam, para epilepsia, pode estar relacionado ao acesso recente a esse medicamento, incorporado à lista de produtos oferecidos pelo SUS em 2017. Assim, o crescimento no consumo desse medicamento não está necessariamente ligado a uma questão epidemiológica, mas sim ao tempo que uma nova tecnologia é de fato implementada na prática clínica.
Finalmente, Sarah Nascimento Silva alertou para o alto potencial de dependência e abuso dos psicofármacos, chamando a atenção para a importância do trabalho contínuo da Assistência Farmacêutica com foco no uso racional desses medicamentos. A pesquisadora ressaltou que as mudanças, ainda que transitórias, podem alterar comportamentos e exigir um cuidado redobrado por parte dos profissionais de saúde.