Brasília – Especialistas e representantes do Ministério das Mulheres e da Polícia Civil do Distrito Federal participaram de uma audiência pública na Câmara dos Deputados para debater o papel da perícia na investigação dos crimes de feminicídio. O evento, solicitado pela deputada Erika Kokay (PT-DF), teve como foco a necessidade de incluir o recorte de gênero nas políticas de segurança pública e na formação dos peritos.
Beatriz Figueiredo, diretora da Divisão de Perícias Externas do Instituto de Criminalística do Distrito Federal, destacou que o Brasil ocupa o quinto lugar no ranking de países que mais matam mulheres de forma violenta no mundo. Ela ressaltou que a morte nessas circunstâncias representa “a expressão final de um ciclo de violências típicas das sociedades machistas”. Figueiredo enfatizou a importância de os peritos estarem familiarizados com questões como violência de gênero, machismo estrutural e misoginia, para que sejam capazes de identificar todos os vestígios presentes nos crimes de feminicídio.
A representante do Ministério das Mulheres, Aline Yamamoto, também alertou para o crescimento do número de mortes violentas de mulheres, que aumentou 4,3% no ano passado, em contraste com a queda de 4,8% nos demais homicídios. Segundo ela, a maioria dos assassinatos de mulheres foi cometida por parceiros ou ex-parceiros.
O promotor do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), Raoni Parreira Maciel, destacou que 75% dos feminicídios registrados em Brasília ocorreram dentro de casa. Ele ressaltou que o protocolo da Polícia Civil, que prevê a investigação de qualquer morte violenta de mulher como feminicídio, foi fundamental para a alta taxa de solução desse tipo de crime. A delegada da Polícia Civil do DF, Viviane Bonato, explicou que o protocolo foi adotado porque a investigação do feminicídio é diferente da elucidação de outros homicídios.
A audiência pública buscou não apenas discutir a importância do recorte de gênero na perícia de crimes de feminicídio, mas também destacar a necessidade de políticas unificadas, propostas pelo governo federal, para abordar a violência contra as mulheres de forma mais ampla e eficaz. A diretora do Instituto de Criminalística do Distrito Federal ressaltou que esse deve ser um trabalho em conjunto, liderado pelos órgãos competentes, visando a implementação de medidas efetivas para combater essa realidade alarmante que persiste no Brasil.