Segundo as estatísticas, o primeiro semestre deste ano registrou 34 mil casos de estupro de meninas e mulheres, representando um aumento de 14,9% em relação ao mesmo período do ano anterior. No entanto, é importante destacar que esses números correspondem aos registros de boletins de ocorrência em delegacias de Polícia Civil de todo o país, e não refletem a realidade completa, conforme apontado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em 2019. O Ipea estimou que apenas 8,5% dos casos de estupro que ocorrem no país são registrados na polícia, o que sugere que o número real pode chegar próximo a 425 mil casos entre janeiro e junho.
A análise geográfica dos dados revela que todas as regiões do Brasil sofreram um aumento no crime de estupro neste semestre, comparado ao mesmo período do ano passado. A maior variação foi registrada na região Sul, com um crescimento de 32,4%, seguida do Norte, com 25%, e do Nordeste, com 13,2%. A menor taxa foi observada no Sudeste, com um aumento de 4,8%.
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em agosto deste ano, apresentou o perfil das principais vítimas de estupros no Brasil. A maioria são meninas de 0 a 13 anos, totalizando 61%, e a metade são negras, com 56% das vítimas. Além disso, a casa foi apontada como o principal lugar de ocorrência do crime em 68% dos casos.
No que diz respeito aos agressores, o relatório revela que em 86% dos casos envolvendo crianças de 0 a 13 anos, o crime foi cometido por conhecidos e familiares, como avôs, padrastos e tios. Já para as vítimas maiores de 14 anos, 77,2% foram agredidas por conhecidos, e 24,3% por parceiros ou ex-parceiros íntimos.
Além dos casos de estupro, o relatório também destacou que 722 mulheres foram vítimas de feminicídio no Brasil no primeiro semestre deste ano, um aumento de 2,6% em comparação ao mesmo período do ano anterior. A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, expressou preocupação com os números, classificando-os como “arrasadores e alarmantes”. Ela ressaltou que não se trata apenas de estatísticas, mas de vidas que foram interrompidas pela misoginia que persiste no país.
Diante desses dados alarmantes, é urgente que o poder público e a sociedade em geral atuem de forma efetiva na prevenção da violência contra as mulheres e na garantia de segurança e justiça para as vítimas. A divulgação desses relatórios e a conscientização da população são passos fundamentais para a mudança desse cenário e a proteção das mulheres em todo o país.