Além disso, os dois outros gasodutos que abastecem a Faixa de Gaza estão fora de operação desde o dia 8 de outubro, após um ataque do grupo Hamas contra cidades israelenses.
O Grupo de Água, Saneamento e Higiene (Wash), que atua para as Nações Unidas, estima que o consumo médio de água por pessoa na Faixa de Gaza tenha caído para apenas três litros por dia, o que é motivo de preocupação para as organizações humanitárias. Segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia, uma pessoa precisa consumir em média 15 litros de água por dia para não sobrecarregar um rim saudável.
A falta de água potável combinada com o consumo de água salgada retirada de poços agrícolas representa um risco imediato para a saúde da população de Gaza. O escritório da ONU alerta que o consumo de água salobra aumenta os níveis de hipertensão, particularmente em bebês com menos de seis meses, mulheres grávidas e pessoas com doença renal. Além disso, a utilização de águas subterrâneas salgadas aumenta o risco de diarreia e cólera.
Os agentes de saúde relatam casos de varicela, sarna e diarreia nas comunidades afetadas, consequência das más condições de saneamento e do consumo de água de fontes inseguras. A menos que as instalações de água e saneamento recebam eletricidade ou combustível para retomar as operações, espera-se um aumento na incidência dessas doenças.
A falta de combustível também tem dificultado a operação das centrais de dessalinização de água do mar em Gaza. Atualmente, apenas uma das três centrais está funcionando com menos de 7% de sua capacidade, devido à redistribuição de combustível entre unidades da ONU. As outras duas permanecem inoperantes.
O ministro de Energia e Infraestruturas de Israel, Israel Katz, justificou o corte de energia e água de Gaza como forma de pressionar o Hamas a libertar reféns feitos pelo grupo. Após um acordo para permitir a entrada de água no sul de Gaza, Israel restabeleceu parcialmente o fornecimento de água para essa região, como forma de incentivar a população a se deslocar para o sul da Faixa.
Além da falta de água, os palestinos de Gaza enfrentam longas filas para conseguir pão nas padarias locais. Apenas cinco das 24 padarias contratadas com o Programa Alimentar Mundial estão em operação e fornecendo pão aos abrigos com refugiados.
A escassez de combustível é o principal obstáculo que impede o funcionamento pleno dessas padarias, colocando-as em risco de fechamento. As pessoas precisam esperar em filas por até seis horas para receber apenas metade da porção normal de pão.
Essa situação de escassez de água e alimentos afeta não apenas os palestinos que vivem em Gaza, mas também os estrangeiros que estão na região. Um brasileiro, Hasan Rabee, registrou a enorme fila que se formou em uma das padarias da cidade de Khan Yunis. Ele e sua família têm água potável e alimentos para mais dois dias, mas a situação é desesperadora para muitas outras pessoas.
Atualmente, há 32 brasileiros que aguardam uma oportunidade para deixar Gaza. Eles foram visitar a família na Palestina antes do início das hostilidades entre Israel e Hamas e agora se encontram presos na Faixa, esperando por uma chance de retornar ao Brasil.
Estima-se que 1,4 milhão de deslocados internos estejam em Gaza, com cerca de 600.000 deles abrigados em 150 abrigos de emergência designados pela Agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA). A situação humanitária na região é preocupante e exige uma resposta urgente da comunidade internacional para garantir o acesso à água potável e alimentos para a população afetada.