De acordo com o geógrafo e pesquisador de discursos midiáticos Francisco Fernandes Ladeira, a cobertura jornalística do conflito tem apresentado uma visão pró-Israel, deixando de lado os problemas enfrentados pelos palestinos. A ausência de contextualização histórica, a escolha restrita de fontes e temas, e a atribuição de adjetivos maniqueístas são elementos que favorecem essa visão parcial. Ladeira ressalta que a cobertura se volta apenas para um lado, simplificando o conflito e criando uma batalha entre o bem representado por Israel e o mal representado pela Palestina.
Outro aspecto criticado é o uso de jogos de palavras e armadilhas semânticas que mexem com as emoções do público. As perdas em Gaza são tratadas como perdas materiais, enquanto as perdas em Israel são enfatizadas como perdas humanas e dramas familiares. Essa abordagem contribui para a invisibilidade dos problemas enfrentados pelos palestinos.
Bruno Huberman, professor de Relações Internacionais da PUC-SP, argumenta que há uma indignação seletiva no debate público, que negligencia o lado palestino. Ele cita o exemplo do “apartheid israelense” que provoca a morte de palestinos diariamente sem receber a mesma repercussão e comoção.
No entanto, a pesquisadora Karina Stange Caladrin, vinculada ao Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP) e ao Instituto Brasil-Israel, discorda dessa abordagem. Para ela, a cobertura jornalística tem dado espaço para especialistas com diferentes visões, tornando-a mais completa e diversa. Ela destaca que é inadmissível justificar os ataques e defender a morte de civis, independentemente de seu lado no conflito.
Enquanto o debate sobre a abordagem jornalística continua, organizações como a Médicos Sem Fronteiras têm relatado uma piora das condições de vida na Faixa de Gaza após os recentes bombardeios. Instalações e equipamentos médicos foram destruídos, milhares de pessoas perderam suas moradias e estão sem acesso a serviços primários. A situação precária da população palestina em Gaza transforma a região em um celeiro para organizações extremistas e movimentos violentos.
A Faixa de Gaza tem uma alta densidade populacional e depende de ajuda internacional para suprir suas necessidades básicas. Israel controla o espaço aéreo, marítimo e o fornecimento de mercadorias, água, energia e comida, o que acaba se tornando um instrumento de pressão política. Essa dependência extrema é um reflexo da vulnerabilidade socioeconômica dos palestinos e uma violação do direito humanitário e das leis da guerra.
Apesar do cenário complexo e das diferentes perspectivas, é fundamental que a cobertura jornalística do conflito seja equilibrada, contextualizada e dê voz a todas as partes envolvidas. Somente assim será possível compreender melhor a história e os desafios enfrentados por israelenses e palestinos.