Construído no século XVIII, o forte proporciona uma vista panorâmica da Baía de Vitória, com o Convento da Penha e a Terceira Ponte como pano de fundo. Nos últimos anos, o espaço passou por revitalização e reabriu ao público há cerca de quatro meses, por meio de uma parceria com uma empresa de siderurgia. Atualmente, é possível agendar visitas turísticas e o local também está disponível para a realização de festividades, como foi o caso do chá revelação de Nikolas Ferreira.
No entanto, é importante ressaltar que o Forte São Francisco Xavier da Barra carrega um histórico de violações dos direitos humanos. Durante a ditadura militar, presos políticos, como a jornalista Míriam Leitão, foram submetidos a torturas nesse local. Em entrevista ao “Observatório da Imprensa” em 2014, Míriam relembrou as experiências vividas no forte, onde foi exposta à presença de cães, agentes da repressão e até mesmo uma jiboia, em uma sala escura.
Além de Míriam Leitão, outros presos políticos também relataram experiências semelhantes de tortura no local, como a estudante de Medicina Maria Magdalena Frechiani, que era acompanhada por militares e cães treinados até mesmo no banheiro. O forte também serviu como ponto de intercâmbio entre os repressores do Espírito Santo e de São Paulo.
No contexto atual, é preocupante que um deputado federal escolha um local com tal histórico para celebrar um momento importante de sua vida. Além disso, Nikolas Ferreira já se posicionou publicamente negando a existência de um golpe militar em 1964, foi testemunha do presidente Jair Bolsonaro exaltando torturadores e pondo o regime militar como defensor da democracia. É preciso refletir sobre a mensagem simbólica que esse evento transmitiu e as consequências desse tipo de atitude, que acaba banalizando o passado sombrio do país.
Nesse sentido, é fundamental que a sociedade esteja atenta e consciente das memórias históricas para que eventos como esse não se repitam. A democracia conquistada no Brasil deve ser valorizada e preservada, e é responsabilidade de todos não compactuar com a exaltação da violência e das violações dos direitos humanos. A escolha de um local militar que carrega um passado de dor e sofrimento como cenário para uma celebração pessoal demonstra falta de sensibilidade e de respeito com a história do país.