Os gemidos vinham do epicentro dos sons, que ficava próximo. Curiosos se aproximavam para ver o que estava acontecendo e logo avistaram a cena. Escondidos atrás de um jacarandá, quatro homens e duas mulheres estavam envolvidos em uma suruba. Enquanto alguns ficavam hipnotizados observando, outros se aproximavam para participar.
Esse endereço faz parte da rota do “dogging” em São Paulo, nome em inglês dado à prática de sexo ao ar livre. Além de praças, parques, ruas e avenidas também são frequentados pelos adeptos.
A maioria dos participantes é composta por gays, mas também há uma parcela heterossexual barulhenta e que gosta de chamar a atenção. Odacy Oliveira, de 49 anos, treina no mirante todas as noites e tem uma vista privilegiada do local. Segundo ele, “é lindo. Aqui as pessoas soltam suas feras. São livres”.
No entanto, há um incômodo para os frequentadores, como o atleta mencionado, que são os invólucros de preservativos espalhados pelo chão. Eles grudam nos calçados dos visitantes, como goma de mascar. Um rapaz de 27 anos comentou que pelo menos as pessoas estão se protegendo, mas não quis revelar o motivo de estar na praça. Acompanhado por um amigo carioca, eles desapareceram nas sombras e voltaram algum tempo depois sem camisa e suados, hidratando-se com cervejas.
Os moradores do entorno do Mirante da Lapa, formado por casarões e prédios luxuosos, estão indignados com os encontros lascivos no local e já enviaram várias denúncias à Prefeitura de São Paulo. Segundo o artigo 233 do Código Penal, praticar sexo em local público é considerado um crime de menor potencial ofensivo, com pena de 3 meses a 1 ano de reclusão ou multa. No entanto, as autuações só podem ser feitas em flagrante.
A prática do “dogging” também acontece em outras regiões da cidade. Na rua Curitiba, no bairro Paraíso, na zona sul, casais dividem espaço com michês e seus clientes. O movimento começa por volta da meia-noite, e existem dois pontos para encontros. Um fica atrás do Círculo Militar e o outro, mais disputado, está ao final da via.
No Parque Ecológico do Tietê, na zona leste da cidade, há uma trilha que funciona como um motel naturalista. Embora não haja registro de reclamações ou flagrantes indecentes no local, a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística afirma que equipes de vigilância estão atentas e qualquer atividade irregular será reprimida.
Na parada de trem de Santo Amaro, uma das entradas para a ciclovia do rio Pinheiros, também é local frequente de encontros íntimos entre jovens universitários, segundo relatos. A SPTrans, responsável pelo local, diz não reconhecer essa prática.
De acordo com o sexólogo Jairo Bouer, muitas pessoas sentem excitação ao praticar algo proibido. Ele afirma que não há problema em expressar fetiches e buscar satisfação rápida em comunidade, desde que não haja violência e preconceito. Bouer destaca que a comunidade LGBT+ é a mais estigmatizada nesse contexto e ressalta que o moralismo é um obstáculo social.
