As residências que ainda se mantêm de pé estão cercadas por pilhas de escombros e móveis danificados pela invasão das águas. A cidade está praticamente isolada, sem energia elétrica, sinal de telefonia e internet, o que dificulta ainda mais a comunicação entre os habitantes.
Diante desse quadro, alguns moradores têm se mobilizado para oferecer ajuda. Circulando pela cidade com carros cheios de sanduíches e garrafas de água mineral, eles tentam minimizar o sofrimento daqueles que foram afetados pela tragédia. No entanto, a sensação de desamparo é grande. Jacir Bazanello, de 74 anos, lamenta a queda de um poste em sua casa e questiona quem irá arcar com o prejuízo de cerca de R$ 300 mil.
Outra cena surpreendente envolve Marcos Saldanha, de 42 anos, que faz um churrasco sobre os destroços de sua antiga casa. Ele utiliza um tonel de ferro para preparar a carne, que certamente estragaria sem refrigeração. Ao apontar para uma árvore próxima, onde há um colchão e roupas espetadas nos galhos, Marcos conta que passou a noite ali com seu irmão. Eles foram resgatados pelos bombeiros pela manhã, após a embarcação em que estavam virar na correnteza.
A situação de Roca Sales é grave, com 7 mortes já confirmadas até o momento. O governador Eduardo Leite esteve na cidade, caminhando entre os destroços e expressando sua consternação com a tragédia. Outras cidades do Vale do Taquari também foram afetadas, mas os números ainda estão sendo contabilizados. Em Muçum, por exemplo, já se sabe que há pelo menos 15 mortos.
Colinas, outro município atingido pelas chuvas, também apresenta um cenário de devastação. Tratores revirados e o asfalto da RS-129 danificado dão a impressão de que a via está em erupção. Grandes árvores bloqueiam o acesso a Roca Sales, restando como alternativa uma estrada de terra, hoje coberta por lama.
Na beira da RS-129, situava-se a loja de artesanato Colibri, que foi completamente destruída pelas águas do rio Taquari. Seus proprietários, Pedro Eckel e Roseli, conseguiram se salvar fazendo um buraco no teto da casa ao lado do estabelecimento. Apesar da difícil situação, todos estão aliviados por encontrarem seus entes queridos vivos.
A Defesa Civil do Rio Grande do Sul informou que 70 municípios foram afetados pelas chuvas. Até o momento, o estado registra 1.650 desabrigados e 3.084 desalojados. Estima-se que cerca de 52 mil pessoas tenham sido afetadas de alguma forma pela tragédia. A pergunta que continua a ecoar em todos é: “o que a gente faz?”. A reconstrução será longa e desafiadora, mas o espírito de solidariedade da população pode ser um ponto de partida para que a cidade seja reerguida.
