A pesquisa analisou cerca de 10 mil itens, como biscoitos, embutidos, bolos, doces, refrigerantes, chocolates, alimentos congelados, bebidas lácteas, sorvetes e molhos industrializados, em supermercados. Dos alimentos classificados como ultraprocessados, 97,1% deles apresentaram sódio, gordura ou açúcar adicionado em excesso. Além disso, foram identificados dois tipos de aditivos químicos: cosméticos, como aromas e sabores artificiais, cores e outros aditivos para melhorar a aparência, e não cosméticos, como conservantes e estabilizantes.
A pesquisa também revelou que 82,1% dos alimentos ultraprocessados continham pelo menos um aditivo cosmético, em comparação com 3,7% dos alimentos processados, 5,1% dos minimamente processados e apenas 0,4% dos ingredientes culinários. Em conjunto, quase todos os alimentos ultraprocessados analisados (98,8%) continham pelo menos um aditivo cosmético e um nutriente crítico em excesso, representando um risco à saúde.
Os alimentos com maior concentração de sódio, gordura, açúcar e aditivos cosméticos foram os biscoitos doces e salgados, bolos e tortas industrializadas, chocolates, bebidas lácteas, sorvetes e margarina.
A classificação Nova, de 2009, divide os alimentos em in natura ou minimamente processados, ingredientes culinários, alimentos processados e ultraprocessados. Segundo a pesquisadora Daniela Canella, da UERJ, a classificação Nova é robusta e precisa, contrariando as críticas de alguns setores, como a indústria alimentícia, que a consideram imprecisa. O estudo comprovou que 98,8% dos alimentos classificados como ultraprocessados realmente apresentam alto teor de nutriente crítico ou aditivo cosmético.
Os dados da pesquisa foram obtidos a partir da análise de 9.851 produtos comercializados em supermercados de São Paulo e Salvador. Os pesquisadores compararam as informações da tabela nutricional dos alimentos com os ingredientes presentes na fórmula para chegar aos resultados apresentados no estudo.
A classificação dos alimentos e o Guia Alimentar da População Brasileira, de 2014, servem como referência para a criação de políticas públicas em saúde. O guia já influenciou a proibição da venda e oferta de alimentos ultraprocessados em escolas no Rio de Janeiro. No entanto, é necessário ampliar as recomendações e apoio ao consumidor, como a melhoria da rotulagem dos alimentos, a redução da propaganda de alimentos prejudiciais à saúde e a inclusão de ultraprocessados na cesta básica.
Para Ana Paula Bortoletto, pesquisadora do Nupens, a identificação de um produto como ultraprocessado facilita a escolha do consumidor por alimentos mais saudáveis. A nova rotulagem aprovada pela Anvisa no ano passado foi um passo importante, mas os resultados do estudo mostram que a regulação pode ir além. Identificar os alimentos ultraprocessados ajuda os consumidores a fazerem escolhas conscientes.
Apesar das medidas já tomadas, é necessário uma maior conscientização sobre a qualidade dos alimentos ultraprocessados e a importância de uma alimentação saudável para combater os riscos à saúde causados pelo consumo excessivo de gordura, sódio, açúcar e aditivos químicos. A pesquisa destaca a necessidade de políticas públicas mais abrangentes e efetivas nessa área.