Tiago Ferraz, um pesquisador brasileiro, obteve seu doutorado no Instituto Max Planck, aprendendo a dominar a técnica do sequenciamento de DNA antigo. Ele então trouxe seu conhecimento para a Universidade de São Paulo (USP), onde realizou um estudo publicado na prestigiosa revista Nature Ecology & Evolution. Esse estudo, intitulado “História Genômica das Sociedades Costeiras do Leste da América do Sul”, analisou 34 amostras de material genético de até 10 mil anos de idade coletadas em várias regiões da costa leste do Brasil.
Esse estudo foi conduzido em parceria com pesquisadores do Senckenberg Centre for Human Evolution and Palaeoenvironment da Universidade de Tübingen, na Alemanha. O objetivo era investigar se as antigas populações costeiras que habitavam o litoral brasileiro eram descendentes de um único grupo biológico ou se consistiam em povos distintos. Os resultados revelaram que essas populações costeiras descendem de uma única população ancestral, que povoa a região há pelo menos 16 mil anos. Isso contraria teorias anteriores que sugeriam duas migrações distintas da Ásia para o continente americano.
Segundo o arqueólogo André Menezes Strauss, do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, esse estudo tem um papel institucional importante, pois é a primeira vez que uma equipe liderada por um brasileiro consegue publicar um artigo de alto impacto nessa área. Além disso, os resultados do estudo estão colocando em xeque teorias anteriores sobre as migrações humanas para o continente americano.
Com o sucesso desse estudo, Tiago Ferraz espera que o Laboratório de Arqueologia e Antropologia Ambiental e Evolutiva da USP, o primeiro laboratório de arqueogenética do Brasil, esteja totalmente em funcionamento até o final de 2023. Esse laboratório foi construído em colaboração com o Instituto Max Planck e permitirá que o sequenciamento de DNA antigo seja feito no próprio país, sem depender de estruturas estrangeiras.
A intenção é capacitar pesquisadores locais para realizar pesquisas arqueogenéticas no Brasil, sequenciando o DNA antigo e gerando dados in loco. Esse avanço representa um marco para a arqueologia brasileira e demonstra o potencial dessas técnicas inovadoras para desvendar os mistérios do passado e entender a evolução humana. Com o sequenciamento de DNA antigo cada vez mais acessível, novas descobertas estão por vir e o Brasil está se consolidando como um protagonista nessa área de pesquisa.
