Martinho, filiado ao Partido Operário Revolucionário Trotskista (PORT), já havia sido condenado por subversão em 1964. Contudo, essa nova prisão ocorreu de forma violenta. Ele foi dominado, algemado e espancado dentro das dependências da fábrica. Em seguida, foi colocado em uma viatura da própria GM, uma perua Veraneio, e levado para o DOI-CODI em São Paulo.
No DOI-CODI, Martinho foi submetido a sessões de tortura, com destaque para o papel de Carlos Alberto Brilhante Ustra, que além de torturá-lo, quebrou seus dentes. Durante esse período de repressão, outros trabalhadores da GM também foram perseguidos e torturados, perdendo seus empregos e enfrentando situações difíceis devido à colaboração ativa da empresa com o regime militar.
Sebastião Penha Filho, ex-operário da unidade da GM em São José dos Campos, é um exemplo disso. Ele chegou a pensar em cometer suicídio devido à pressão psicológica sofrida na demissão e por ter seu nome incluído na “lista suja” dos demitidos, que implicava dificuldades em encontrar emprego. Assim como Assis Henrique de Oliveira, que desapareceu após ser demitido em 1985, também enfrentou problemas psicológicos e pode ter se envolvido com agentes da repressão e a direção da empresa.
Um fato importante a ser destacado é o papel do coronel Evaldo Herbert Sirin, chefe do setor de segurança da fábrica de São Caetano do Sul. Além de ser um representante da GM nas reuniões do Cecose-VP, uma organização que trocava informações sobre lideranças e ativistas sindicais, Sirin era um militar condecorado pela Força Aérea Brasileira, o que reforça a colaboração entre a empresa e o regime de exceção.
Martinho Leal Campos, o trabalhador preso na GM, já tinha um histórico de envolvimento com partidos de esquerda. Ele foi preso no passado por ser membro do PORT e atualmente estava filiado ao partido. Registros da ABIN e do SNI apontam sua atuação na redação e distribuição de materiais considerados subversivos.
Apesar de ter sido condenado e preso anteriormente, Martinho Leal Campos estava trabalhando na fábrica da GM quando foi preso novamente. O mandado de prisão foi expedido em agosto de 1972 e justificado pelo fato de Martinho ser considerado subversivo e pertencer ao PORT.
Esse incidente ocorreu em um período de repressão intensa, com o desmantelamento de partidos e organizações de oposição ao regime militar. A prisão de Martinho na GM, assim como casos semelhantes na Volkswagen do Brasil, evidencia a cooperação entre empresas e órgãos de repressão durante a ditadura.
No entanto, vale ressaltar que a situação de Assis Henrique de Oliveira, demitido pela GM em 1985 e desaparecido desde então, permanece inconclusiva. A reportagem trouxe à tona seu caso, mas ainda não há informações definitivas sobre seu paradeiro ou sobre seu possível envolvimento com a direção da empresa e agentes da repressão.
Em suma, a prisão de Martinho Leal Campos na General Motors do Brasil em 1972 revela a colaboração entre a empresa e órgãos de repressão durante a ditadura militar. Esse episódio se soma a outros casos de perseguição, tortura e demissões de trabalhadores envolvidos em movimentos sindicais e de trabalhadores durante o regime. A cooperação entre empresas e a repressão era uma realidade naquele período sombrio da história do Brasil.
