Analistas afirmam que essa mudança não significa uma guinada ao centro, mas sim uma postura pragmática por parte da ultradireita. Segundo Rui Tavares, historiador português e ex-eurodeputado, a maioria dos europeus é crítica à União Europeia, mas não deseja a saída do bloco. Portanto, a ultradireita está adaptando suas posições em política externa e economia em nome do pragmatismo.
Outro ponto de inflexão na política externa da ultradireita está relacionado à guerra na Ucrânia. Muitos ultradireitistas que eram críticos à ordem internacional formada após a Segunda Guerra passaram a se opor a Vladimir Putin e se alinhar à Otan devido ao conflito na Ucrânia. No entanto, alguns analistas acreditam que essa postura é apenas temporária e que, quando a guerra se tornar irrelevante, eles voltarão a criticar a Otan.
Esses grupos da ultradireita também têm apresentado mudanças em suas agendas econômicas. Alguns partidos, como o Chega de Portugal, já tiveram um discurso mais liberal, mas passaram a adotar políticas mais voltadas para a esquerda. Porém, essa mudança na agenda econômica é vista apenas como instrumental por esses partidos.
É importante ressaltar que, apesar dessas mudanças pragmáticas, o nacionalismo, o populismo e a guerra cultural ainda continuam sendo os principais temas da ultradireita. O discurso anti-imigração e a pauta anti-LGBT+ ainda são relevantes para esses grupos.
Embora a ultradireita esteja enfrentando dificuldades eleitorais em alguns países importantes da Europa, como a Espanha, onde o partido Vox encolheu nas últimas eleições, eles ainda têm conseguido estabelecer suas pautas no debate público. Além disso, partidos de centro-direita, como o Partido Popular na Espanha e a União Democrata Cristã na Alemanha, têm adotado posições mais radicais, o que evidencia a radicalização da direita em geral.
No entanto, é importante não superestimar essas dificuldades enfrentadas pela ultradireita, pois eles continuam obtendo vitórias em outros campos e influenciando o debate público. A extrema direita não está pronta para dominar a política, mas o centro tem se movido em direção à direita radical em algumas posições. Para alguns analistas, é apenas uma questão de tempo até que a centro-direita se alie à extrema direita.